Um dia em Copenhague: de uma cerveja com Mikkel Borg Bjergsø, da Mikkeller, até um jantar no Relae

 

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Na sexta-feira a agenda foi intensa. O dia chuvoso começou de maneira ácida e azeda, com uma visita ao escritório da cervejaria Mikkeller, para um bate-papo com Mikkel Borg Bjergsø, um dos mais cultuados mestres da movimentada cena da produção artesanal, autor de algumas dos melhores rótulos que já bebi na vida, e talvez o principal expoente da febre das sour ales, e outros estilos do gênero, craque na fermentação espontânea e na utilização de báctérias. Não vou entrar em muitos detalhes, porque a entrevista foi feita para uma reportagem que estou escrevendo, e que em breve eu compartilho por aqui. Para tudo ficar ainda melhor, me acompanhou no programa o amigo gaúcho Diego Fabris, dos Destemperados, ótimo companheiro de viagem, com quem dividi essa grande experiência.
Mas o fato é que foi mesmo incrível passar com ele uns 45 minutos, falando sobre esses assuntos. No final, quando nos despedíamos, ele perguntou se não queríamos beber uma cerveja. Como eu ia perder essa oportunidade?

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Então, ele buscou uma cerveja feita com 50% de vinho de cereja, Mikkeller Spontan Cherry Frederiksdal, maturada em barricas de Chardonnay, e produzida na Bélgica em parceria com a Proef Brouwerij.
– Este é o melhor vinho da Dinamarca, de cereja. Misturo ele à cerveja, e então há uma nova fermentação.
Ácida, cheia de fruta, perfumada, é uma cerveja para enófilo nenhum colocar defeito, e numa degustação às cegas certamente se passaria por um vinho. Delicioso. Leve, fresco e delicado.

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Então, ele nos serviu a base do preparo dessa receita, que leva 50% do vinho de cereja e 50% de cerveja. Primeiro, serviu o vinho, sozinho, que me lembrou muito um Porto Ruby jovem, com aquela característica explosão de frutas com final adocicado. Depois, a cerveja – a Hues 2014 – que recebeu o vinho de cereja para nova fermentação. Bela cerveja. No final, misturou ambas no copo. E nós fizemos o mesmo.

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Ficou bem, mas a outra a cerveja original me pareceu mesmo melhor, mais intensa e integrada. Grande momento.

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Se fui eu que consegui a entrevista com Mikkeler, o Diego Fabris retribuiu descolando informações sobre uma feirinha de comida de rua, uma obsessão que ele cultiva no momento, e eu também.

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Debaixo de uma chuva fraca, mas insistente, cruzamos a cidade, observando coisas que fazem de Copenhague um lugar legal, cheio de bossa, como este bar às margens do canal, com direito a sauna e DJ.

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Atravessamos até chegarmos ao espaço, imaginando que possivelmente a gente estava se metendo na maior furada, uma vez que comer comida de rua debaixo de chuva não é dos programas mais apetitosos. Mas, chegando lá, a surpresa: era uma feirinha indoor, com direito a containers do lado de fora, com lareira.

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Lá dentro, mais lareiras, muitas mesas espalhadas e uma ótima seleção de lugares para comer, com perfis bem variados.

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Tinha desde um churrasqueiro gaúcho…

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…a cozinha mexicana (o trailer da direita vende tacos), passando por um bar cubano,…

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…outro sul-coreano, outro italiano (à direita), uma pizzaria, e ainda um sushi bar (à esquerda) , uns três bares de cerveja, um bar de drinques sólidos, feitos com nitrogênio líquido, uma casa de hambúrguer, e uma outra com variações marinhas do sanduíche (de salmão, e outra do tipo surf ‘n’ turf, com camarões e carne bovina, e muitos outros estabelecimentos mais).

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Havia um trailer de carne “65 horas”: marinada 24 horas; com mais 11 de sous vide e 30 do preparo do molho.

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Tudo bem bonito e charmoso, e isso vale para o ambiente  e para a comida, perfumada, apetitosa, em suas várias diferentes sugestões.
– Os caras fizeram uma boa curadoria. Os lugares são bem diferentes. No Brasil, às vezes essas feirinhas têm comidas muito parecidas – observou, com razão, o Diego.
Sem falar no charme do lugar. Chegamos por volta de 14h. E, quando o relógio apontava 16h, olhamos para fora. Estava escuro, e chovia ainda mais forte. Não tem jeito, vou sempre estranhar um dia que amanhece às 8h e que escurece às 16h. São apenas 8h com luz natural, e uma luz bem fraquinha, ainda mais em um dia chuvoso como aquela sexta. E no auge do inverno, em janeiro, pode tirar aí, no barato, mais meia hora de sol pela manhã e mais meia hora de tarde.

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No tempo em que estivemos lá, comemos cachorros-quentes,…

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… hambúrgueres e um prato de carne picante com arroz, da barraca sul-coreana. Pra beber, cervejas e snaps. Tudo bom, mas nada emocionante. Mas com preços mais em conta que no resto da cidade, em estabelecimentos regulares (como é caro tudo aqui).
Saímos por volta das 17h, na mais completa escuridão; então, pegamos um barco para cruzar um canal, e encurtar o caminho.

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Desembarcamos na área de Nyhavn, o principal cartão-postal de Copenhague (ao lado da miúda estátua da Pequena Sereia), um cais apertadinho e comprido, com casinhas coloridas de quatro ou cinco andares, um dos lugares mais charmosos e fotografados da capital dinamarquesa.

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Paramos em um bar de jazz e cervejas, o Pale Bar, mas nem consumimos nada, uma vez que lá dentro é permitido fumar, o que torna o ambiente, mesmo que charmoso, algo insuportável (e fiquei imaginando que até uns 10 ou 15 anos atrás era assim em qualquer bar e restaurante do mundo). Mas adorei a logo.
Pegamos um táxi para voltar ao hotel, já que chovia e fazia frio. Vi que existe trânsito na Dinamarca. Chegamos ao hotel, e bebemos algumas cervejas do Hans Christian Andersen (que foi parte do post de ontem: para ler, clique aqui). Depois, fomos até o bar da Mikkeller, onde havíamos estado na noite anterior (absolutamente imperdível) para nos encontrarmos com o Giba, brasileiro boa-praça, que é representante da marca no Brasil (agora importada pela Interfood, que nos últimos anos apostou no mercado de cervejas especiais, e hoje tem uma linha ampla, variada e de qualidade). Pena que não pudemos ficar muito tempo.
Pena nada. Tínhamos uma reserva para às 21h30 no Relae, do chef Christian Puglisi, que trabalhou no Noma, um dos tantos restaurantes que vão seguindo o rastro de René Redzepi, revolucionando a gastronomia nórdica, e mundial, e transformando a Dinamarca em referência atualmente, com essa pegada orgânica e natural, com os ingredientes nítidos, muitas vezes crus, com preparações delicadas, e receitas saudáveis, em sua maioria. Mas não posso falar muito também, mas o jantar é a base de uma outra matéria que vou escrever, e não posso estragar a surpresa.

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Mas resumindo: além de pratos de execução primorosa, tive uma noite gloriosa também por conta da harmonização, precisa, surpreendente e ousada, que a sommelière da casa (ótima mesmo) nos proporcionou, servindo vinho puros, finos, elegantes e sinceros, como este Mucadet, do Domaine de la Paonnerie, o incrível ‘Rien que Muscadet. Sem falar no meu companheiro de mesa, gente da melhor qualidade para se dividir uma refeição, que teve até risotinho com trufas brancas, de Alba, claro.
Voltei para o hotel para uma saideira com o resto da turma que me acompanhou nesta viagem, um dos melhores grupos com os quais eu já viajei, quando reencontrei amigos como o próprio Diego e a jornalista Letícia Rocha, que voltou da Itália para editar a revista da Have a Nice Beer, e para trabalhar em uma produtora de vídeo que, entre outros projetos, também faz filmes para a Wine.Com (e também para a HNB, comprada por eles).
Fiquei pensando: sou mesmo um cara de sorte, e hoje sinto a vida fluindo tranquila, com muitas coisas boas acontecendo ao mesmo tempo. O ano de 2015 promete, e eu conto com a ilustre companhia de vocês nesta jornada.

2 Respostas to “Um dia em Copenhague: de uma cerveja com Mikkel Borg Bjergsø, da Mikkeller, até um jantar no Relae”

  1. Fernanda Says:

    Olá!
    Sabe dizer se essa feira existe sempre? Onde fica?
    Obrigada!

  2. Fernanda Says:

    Olá!
    Sabe dizer se essa feira existe sempre? Onde fica?
    Obrigada!

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