A sequência de pratos apresentados pelo sushiman Fábio Seiji vinha em alto nível, com uma seleção de saquês da mesma envergadura. Tatakis preciosos abriram o caminho para sushis e sashimis impecáveis, além de iguarias como vieiras, ovas e ouriço. Quando ele serviu a dupla de sardinha, puro sabor marinho, concentrado, intenso, gordo, percebeu a minha alegria antes mesmo de pegar o bolinho de arroz coberto com uma fatia do peixe. Ele já sabia do meu encantamento por esta espécie que muitas vezes é desprezada aqui no Brasil.
– Quando você comentou que gosta de tartare de sardinha, de ouriço e de enguia, eu entendi o seu paladar – disse-me o sushiman, que me serviu uma das melhores degustações de sushis de toda a vida.
Confesso que fui visitar o Naga, recém-inaugurado no Village Mall, na Barra, com uma alta expectativa, pelo que já havia escutado e lido sobre ele. Mas, ainda, assim, foi uma tarde ainda melhor do que eu poderia imaginar. Cheguei cedinho, logo que a casa abriu, e fui o primeiro cliente.
O salão é moderno, bem iluminado e com o maior refrigerador de pescados que já vi na vida, repleto de peixes e frutos do mar de bela aparência.
Quando pedi ao Fábio Seiji (o da esquerda) para fazer uma foto dele, gostei da sua atitude, de valorizar o seu time de ajudantes, posando com todos eles. Cozinhar é um trabalho em equipe, e chefs que entendem isso, e reconhecem o mérito de todos, tendem a ser os melhores. Repara na gigantesca centolla, que chama a atenção na vitrine refrigerada, cheia de gostosuras.
Fomos papeando, e dei carta branca para ele montar um menu, listando algumas preferências. As sardinhas, o ouriço, o toro, é claro… Para começar, o Mutsu Otokoyama Chokara Junmai, um belo saquê, seco e forte, com final de boca longo, …
… preparou a boca para o primeiro dos muitos bocados: uma saladinha de repolho com tomate e um ótimo molho de cenoura.
Aos 34 anos, Fábio chegou ao Rio para abrir o Naga tendo duas décadas de experiência como sushiman: sim, ele começou aos 14 anos.
– Queremos apresentar coisas novas, menos rolinhos califórnia e menos salmão e atum para explorarmos os pescados aqui do Rio, além de outros ingredientes menos comuns, como ouriço. Mas não é fácil, temos que fazer com calma, respeitando o gosto dos clientes. Mas, aos poucos, vamos apresentando iguarias menos óbvias – diz ele.
Empunhando o segundo saquê, o Jozen Mizunogotoshi Junmai-Ginjo, em degustação conduzida pelo maître da casa, Jhun, também importado de São Paulo, com a bebida sendo servida em copos de vinho, como deve ser …
… recebi com imensa alegria o tataki, com três variações sobre o mesmo tema. Peixe-serra, polvo e uma parte nobre do atum, quase um toro (da esquerda para a direita).
Merece um close.
Merece um close ainda maior, pelo ângulo reverso. Tudo lindo, tudo delicioso, conjunto abrilhantado pelo saquê perfumado, floral, seco e delicado, e pelo molho ponzu, feito com shoyo, limão, laranja, saquê, gengibre, nabo e pimenta dedo-de-moça.
Então, começou uma sequência de sushis de tirar o fôlego, duplinhas irresistíveis. Primeiro, de pargo (esquerda) e lírio, cortes brancos e frescos, com sabores delicados.
Então, outro saquê se apresentou: o Nanbu Bijin, outro exemplar seco e delicado, produzido artesanalmente.
Foi paixão à primeira vista. Foram paixões à primeira vista. Primeiro, com a duplinha de linguado (esquerda) e olho-de-cão.
Depois, com a duplinha de robalo (o branquinho, à esquerda) e olho-de-boi (o mais rosadinho, quando a carne começou a ganhar cor e sabor mais intenso).
Eu diria que o saquê Nanbu Bijin viveu um lindo caso de amor com essas duas etapas. Mas foi quando ele se encontrou com as veiras, delicadas e de sabor intenso, pontiagudo, pelo tempero de limão siciliano e do sal vermelho do Havaí, que o cupido flechou os nossos corações. Por pouco, não me levantei, e saí cantando pelo salão como a vida é bela. Ainda bem que o saquê ainda atuava com moderação, então eu me contive, para alívio dos demais clientes que já lotavam o salão àquela altura.
Mais de perto, por favor, porque vale a pena.
Já estava encantado pelo Naga. Imagine, então, a minha reação quando chegou o uni, ou seja, o ouriço-do-mar, com seu sabor marcante, realçado pelo limão e pela pitada de flor de sal de Guérande.
O negócio foi ficando sério e surpreendente. Hora dos crustáceos. Assim, vi que não era só para enfeite aquela linda centolla da vitrine refrigerada. O caranguejão também vira um ótimo sushi. E quando chega em dupla, então, ao lado de um exemplar de lagosta, a coisa fica ainda melhor.
Hora de trocar novamente o saquê. E à esta altura, era tanta informação, que acabei não anotando o nome da marca. Anotei que é de Kobe, e que tem sabor seco e frutado, e que foi dos melhores saquês que já degustei. Vou tentar recuperar o nome, mas se alguém souber, por favor, pode depositar a informação na caixa de comentários, e o blogueiro agradece.
Mais de perto.
E fomos em frente. Duplinha de toro. Ai ai ai…
Então, ele me mostrou o caminho que o peixe faz, começando com as suas partes mais nobre, indo para os sashimis (esquerda), e depois passando para os sushis, com cada parte do animal, com cada espécie, cortada de maneira diferente.
Ainda estava relativamente longe do final. Foi quando as minhas preces foram ouvidas, e a plaquinha de madeira que repousa sobre o balcão, com wasabi e gengibre, recebeu uma duplinha das mais esperadas daquela magnífica tarde: eram sardinhas, fresquinhas, depositadas sobre o bolinho de arroz. Vibrei.
Em seguida, mais uma duplinha, que acabei esquecendo de anotar. Mas, pela aparência, e pelo que me diz a minha memória, era um peixe-serra. Estava impecável, e isso eu me lembro muito bem.
Depois, ovas de salmão, como se fossem prelúdio…
… da barriga deste mesmo peixe, com toque de limão siciliano.
Mais ovas. Dois tobikos, como são chamadas as ovas miudinhas. No caso, temperadas, e coloridas, com jalapeño e wasabi. Para dar um tapa no sabor, instigando a boca para a reta final.
Porque havia, ainda, mais um saquê, que igualmente deixei de anotar o nome. Fato é que ele cumpriu lindamente a sua missão de escoltar os pratos derradeiros.
A enguia, que me fez sorrir de alegria. Composição equilibrada, o sabor intenso, a alta concentração de gordura do peixe, quebrado pelo molho adocicado. Coisa de doido.
Um rolinho, de shari, o arroz de sushi, com mais enguia, ovas e abacate envoltos em folha de nori.
E logo veio uma daquelas combinações infalíveis. Atum com foie gras, e em execução perfeita.
O último ato, encerrando com chave de ouro, foi o sashimi de toro, corte do atum que é a glória marinha.
Último ato salgado. Porque encerramos como se deve encerrar uma refeição japonesa, ao sabor do licor de ameixa tradicional.
Ainda dei uma espiada na estante repleta de saquês, junto ao bar, na porta da casa. E fui embora encantado, pensando em quanto quanto pode ser leve, surpreendente e saborosa um almoço “carta branca” no balcão das melhores casas japonesas, caso do Naga, que já chegou conquistando o meu coração.
Índice de posts de bares e restaurantes na cidade do Rio de Janeiro: clique aqui.
19/10/2013 às 23:09 |
Mto bom! mas qto foi essa brincadeira?
07/11/2013 às 12:15 |
Já ia mesmo esta semana, mas depois de ler seus comentários fiquei mesmo convicta de que tenho que experimentar!
27/03/2014 às 20:18 |
Gostaria muuito de saber quanto foi também! A matéria me deu ainda mais vontade de conhecer, certeza que vou amar!
22/05/2014 às 15:22 |
É caro! Mas a experiência vale cada centavo! E com certeza é mais barato do que viajar para o japão e comer sushi de verdade! Depois do Naga, comer esses enrolados entupidos de cream cheese fica difícil!!!!
A maioria dos restaurantes japoneses do Rio só tem 3 tipos de peixe, salmão, atum e dourado, no máximo um namorado pra fazer uma graça! Tudo comprado da Frescato, e muito provavelmente congelado! E como falei, tudo com cream cheese! Triste!
12/04/2015 às 22:42 |
quanto custou a refeição relatada acima?
02/05/2015 às 17:13 |
Poxa, mas ninguém vai dizer quanto custou esse almoço? Estou com água na boca, morrendo de vontade de ir, mas preciso saber + ou – , não precisa ser exato, quanto vou gastar, por exemplo: varia de R$ a R$. Amei. Obrigada Lilian
04/05/2015 às 9:10 |
Um jantar no Naga vai custar entre R$ 100 e R$ 200 por pessoa, em média.
06/05/2015 às 2:05
Uau, Obrigada Bruno, é que fizeram tanto mistério que achei que custasse uma fortuna, com certeza compensa muito provar o que esse restaurante oferece. Muito obrigada.
26/10/2016 às 23:22 |
Hakutsuru Daikinjoo