Esse pessoal acostumado só a comer caranguejo na beira da praia, quando come lagosta… se machuca. Hoje provei uma senhora lagosta, preparada no Guido, restaurante com mesas espalhadas pelas areias da praia da Cueira. Uma, não, foram cinco. Estava sensacional. E, olha só, dizem que nem é a melhor da ilha, que na Cova da Onça haveria um pessoal que faz melhor. Amanhã, se o tempo ajudar, vou conferir. Depois de serem levemente aferventadas na água pura e salgada do mar elas vão para uma frigideira grande, onde é finalizado o preparo no calor intenso da lenha, na beira do mar, numa cozinha a céu aberto. Pedi a frita, que é feita com cebola, limão e azeite, em fogo bem quente. Eu e meu guia, o figuraça do Marquinhos, nos fartamos. Eram cerca de 11h da manhã, e o dia estava começando apenas. Não me lembro de ter comido lagosta de manhã em outra oportunidade… Estava ótima, fresca e com bom tempero (o que significa quase nada), com a carne do rabo saindo fácil. Comi com a mão. De vez em quando, jogava uma boa pimenta arriba-saia, outra especialidade local, e um pouco de limão, afundando o rabão numa ótima farofa. Mas que sensacional. Degustado o rabo, eu ia direto para as patinhas, que guardam preciosos pedacinhos de carne, suculentas, macias, prazer acentuado pelo trabalho que dá para obter a carne, de cor levemente arroxeada. Uma verdadeira preciosidade reservada aos que têm paciência. E é preciso cuidado, porque esta espécie, a lagosta vermelha, abundante neste mar verde e lindo, tem muitos espinhos nas patas. E esse mané aqui, acostumado a caranguejo e toda sua inofensividade, cortou um dedo, espetou um outro. Tudo em nome da carninha que as perninhas finas abrigam. Como as rosas, a lagosta de Boipeba tem espinhos. Rosas são lindas e lagostas, deliciosas. Mas lagostas também são lindas e rosas, deliciosas.
Boipeba, assim como elas, é linda e deliciosa.
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Boipeba, muito prazer, me chamo Bruno
15/02/2011
Estou quase seguro de que a primeira vez em que ouvi falar da Ilha de Boipeba foi logo após o carnaval de 1997, quando deixei Salvador para voltar ao rio no Uno Mille guerreiro, cor de vinho e sem ar-condicionado, que tantas vezes me levou à Bahia.
Na volta para casa paramos em Valença, onde deixamos o carro e pegamos um barco para passarmos uns dias em Morro de São Paulo, que então era um destino badalado – ainda não era tão ruim como hoje, mas também já não tinha mais os encantos de antes, já estava em franca decadência, com uma urbanização desordenada, muito lixo, esgoto a céu aberto. Não curti Morro de São Paulo, ainda que tivesse passado bons momentos na ilha, principalmente na Quarta Praia e na área do antigo forte.
Mas desde esse tempo sou louco para conhecer a vizinha Ilha de Boipeba, que já naquele tempo era anunciada como um paraíso intocado, com praias maravilhosas e um clima abem pacato, ainda uma vila de pescadores. Quando eu me dizia meio decepcionado com Morro de São Paulo, todos me diziam.
– Tens que visitar Boipeba, tens que visitar Boipeba.
Pois é chegada a hora. De lá para cá Boipeba ficou famosa, mas já deu para perceber que nem por isso perdeu o seu encanto, a sua magia, nem tampouco sofreu com o turismo indiscriminado.
Acabo de chegar aqui, quase 14 anos depois de ter ouvido falar pela primeira vez desse lugar. A impressão que tenho é que pouca coisa mudou, senão por Boipeba ter ganho boas pousadas, como a das Mangabeiras, onde estou hospedado, e até restaurantes, como o Chez Iris & Igor, realmente a casa desse casal, que recebe os clientes na sala – e ambos cuidam da comida e do serviço.
Cheguei de maneira um tanto improvável, de avião – sim, há linhas regulares a partir de Salvador, em pequenos aviões para apenas quatro passageiros. Menos de uma hora de voo, lindo visual, viajando baixinho, curtindo a paisagem que vai ficando mais linda conforme o destino final de aproxima. Como Boipeba é linda do alto. Não só pela economia de tempo e conforto, mas pelo visual, vale demais a pena cacifar uma passagem aérea.
O serviço de bordo é como o da Gol, ou seja: nada…
Mas voltemos à terra. Em Boipeba come-se bem. No cardápio tradicional, muitas lagostas, como a preparada pelo Seu Guido, na linda praia da Cueira. E moquecas, é claro. Afinal, estamos na Bahia – só alegria!
Mal cheguei e já deu para perceber que Boipeba é sem dúvida um dos lugares mais lindos do litoral brasileiro, com mata intocada e praias quase virgens, com mangues vivos e um clima agradável, tipicamente baiano. Só o fato de não haver carro…
É um dos lugares mais bonitos que já vi.
Também é fácil notar que, para se feliz aqui, basta um short e um chinelo. E máscara de mergulho.
Enfim, como nem tudo é perfeito, o tempo não está ajudando: nuvens feias e chatas ocupam todo o céu. Mas de vez em quando até entra um solzinho.
Cadê a carrocinha com o picolé de mangaba, fruta que adoro?
Hoje quero uma lagosta. Acho que amanhã também. Quero ostras e comarões, peixe fresco, sururu. Será que encontro um bom vinho branco?
No mais: será que hoje tem forró?
Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia (muita felicidade a caminho de Salvador)
04/02/2011Fotoblog: um passeio até a Pedra Furada, em Jeri, levado pelo Lula
02/02/2011Logo que saímos da vila de Jeri demos de cara com o cemitério.
Depois, seguimos pela estrada afora, por cima do Serrote.
Chegamos à Pedra Furada, com os últimos raios de sol daquela tarde. Depois o tempo fechou. Que sorte.
Olha só, 25 minutos depois, como ficou: precisei até usar de leve o flash para fotografar o jegue no caminho de volta.
Para encerrar, seu Reginaldo, que votou na Marina e depois na Dilma.
O dia em que o Lula me levou para um passeio até a Pedra Furada, em Jericoacoara
01/02/2011
No domingo, meu primeiro dia em Jeri, fiquei pela vila, papeando com as pessoas, fotografando, visitando uns restaurantes, bares e lojas.
Depois fui até a Pedra Furada. Estava com pouco tempo. E o sol ardia no meio da tarde. Preferi pegar uma carona confotavelmente na carroça do seu Reginaldo, que faz ponto na Praia de Jeri: R$ 15 por pessoa (ou R$ 20, para um só passageiro, como foi o meu caso).
Puxei conversa.
– E qual é mesmo o nome do cavalo¿
– Lula.
– E qual a idade dele?
– Oito anos.
– Ah, então o senhor em homenagem ao presidente que tinha acabado de ser eleito?
– Sim. E sabia que o Lula tava aqui ontem? Passou o dia na cidade, depois foi embora de helicóptero.
– É mesmo?
– Pois é, agora é que ele ta aproveitando de verdade. Só vai viajar, curtir a vida…
– E o senhor votou na Dilma?
– Mais ou menos. Primeiro votei naquela outra mulher…
– A Marina?
– Isso mesmo. Aí, depois voltei na Dilma. Naquele outro cara, não dava, não.
Depois eu conto mais sobre este passeio.
E se o Lula barbudo estava mesmo em Jeri, eu não sei.
Música eletrônica em Jericoacoara? Meus Deus, aonde chegamos…
30/01/2011Cheguei esta madrugada em Jeri, quase três da matina. Larguei as coisas no hotel e corri para a padaria Santo Antônio – afinal, voar de Gol significa chegar ao destino esfomeado (o que se agravou depois de quase quatro horas de estrada).
Pedi um de queijo, por R$ 2, e um de coco, que custa apenas R$ 0,50. Acho que esses caras merecem uma medalha do governo. Tenho quase certeza que esses são os mesmos preços desde janeiro de 2003, quando visitei Jeri pela primeira vez.
Uma das razões do sucesso da casa é a massa leve e o forno a lenha que assa os pães. O de queijo não é no estilo mineiro. Parece mais um sanduíche no pão careca, só que já preparado com o queijo, de coalho, claro, já no recheio, o que deixa a masa na parte de baixo molhadinha, levemente solada (se fosse queijo minas frescal ia empapuçar tudo, tinha que ser um coalho mesmo). Recém-saído do forno, fumegante, é uma beleza. A massa é levinha. O de coco também é muito bom, com uma cobertura docinha, agradável. E, numa boa, pelos preços cobrados, não poderia ser melhor que isso. Relação custo-benefício imbatível, ainda mais se considerarmos que estamos na alta estação, com a cidade lotada.
O lugar faz um sucesso danado. Fica cheio das 2h da madrugada, quando abre, até umas 5h, 6h ou até 7h, horário de fechamento (geralmente encerra por volta das 5h, mas quando tem movimento estica um pouco mais).
Muita coisa continua do mesmo jeito em Jeri, mas muita coisa mudou. Ontem desci até a rua da praia, depois do lanchinho da madrugada, em busca de um forró. E sabe o que encontrei¿ Música eletrônica. Pelo amor de Deus… Como alguém consegue ouvir música eletrônica em Jeri. O mundo está mesmo perdido, não tem mais jeito. Eram dois lugares tocando essa coisa medonha. Um desses espaços fica ao lado da Pousada Ponta das Pedras. Eu que não quero me hospedar ali. Imagine só, um bate-estaca durante toda a madrugada, do lado do seu quarto. Algo passível de suicídio.
Pelo menos ainda resiste o tradicional Forró da Dona Amélia, que até batizou a rua onde está, que se chama… Rua do Forró. Mas, que pena, esse só acontece às quartas e sábados.
Música eletrônica é uma tragédia, uma das maiores pragas recentes da humanidade. Viva o samba, viva o forró!!!
Recentemente, em Santiago, depois de um jantar sublime no restaurante Osaka, no hotel W, subi para o terraço. Vista maravilhosa da cidade, com direito a lua cheia, muita gente bonita, tudo ótimo… se não fosse por um detalhe, a trilha sonora: puta merda, só bate-estaca. Para mim, foi uma ofensa um lugar tão agradável ter música tão ruim.
O mundo está mesmo perdido…
Aliás, Jeri tem ótimos nomes de rua. Tem a Principal, a da Farmácia, a da Igreja, a dos Coqueiros, a das Dunas, a do Ibama… E também há os becos: da Malhada, do Guaxelo, do Chocolate… Este último, aliás, ganhou este nome por funcionar ali o restaurante Chocolate, um dos mais antigos de Jeri (em 2003 já funcionava e comi ali bons risotos, lembro-me bem. O restaurante funcionava num espaço na Rua do Forró, com agradável varandinha, hoje ocupado por uma casa de tapioca. Voltarei ao Chocolate, com certeza.
Hoje, domingão, fico aqui mesmo pela vila. No máximo, uma caminhada até a Pedra Furada. E, certamente, uma subida até a Duna do Pôr-do-Sol, em sua hora mais cheia e sublime.
Jeri vamos nós!
29/01/2011Se tudo der certo, porque depender de avião no Brasil é fogo, daqui a cerca de dez horas to chegando em Jericoacoara. Vou direto pro forró e pra padaria, claro.
Estive por lá no finalzinho do ano passado, quase a jato, a caminho do Piauí e do Maranhão. Apesar de ter ficado só uma noite por lá, gostei do que vi. Tinha visitado Jeri em janeiro de 2003. Lugar lindo, viagem inesquecível. A impressão que tive foi a de que a vila cresceu de maneira ordenada. Há muito mais gente, é certo. Gente mais arrumadinha, sem dúvida. Mas o clima despojado persiste, e não há socialite capaz de quebrar esse encanto em alguns lugares, como Búzios.
Isso tem um lado bom. Há hoje muitas pousadas charmosas, restaurantes com boa comida. E isso não agrediu o ambiente, porque ainda bem que Jeri é protegida por um parque nacional, e não vemos ali as invasões que assolam o nosso litoral de norte a sul. Mas continuam por lá as hospedarias familiares, os vendedores de ostra cresça. E, claro, a galera que aproveita os ventos fortes. Em 2003 Jeri era o paraíso do windsurfe. Hoje a vila continua sendo a praia dessa tribo. Mas surgiu o kitesurfe, e essa galera se concentra na Praia do Preá.
Os passeios de bugre continuam sendo fundamentais. Assim como o forró das madrugadas. Para conjugar ambos, melhor deixar o passeio para mais tarde, assim, depois do meio-dia.
É isso aí!
Jeri vamos nós!!!
Azeite de abacate: essa eu não conhecia
24/01/2011Para encerrar a série sobre o Chile, mais uma novidade a que fui apresentado nesta viagem: o azeite de abacate (ou aceite de palta). Adoro esta fruta, em suas mais variadas formas: desde o nosso creme de abacate (um bom coupe camargue, clássico da cozinha carioca tradicional, é algo que adoro: trata-se de um creme de abacate, que pode ser feito com sorvete de creme, servido com um pouco de vinho do porto) até o guacamole e o sanduíche de pollo (frango) com palta, muito popular no Chile e também na Argentina. Sempre como, sempre adoro esta combinação entre a carne magra e de textura seca do frango com o sabor adocidado e a textura cremosa do abacate. Demais! fatias de palta (este abacate popular em muitos outros países da América Latina, menor, mais docinho e de consistência mais dura que o nosso) também vão bem com carne bovina, e podem compor sanduíches variados, como hambúrgueres, saladas etc etc etc.
Por fim, me contaram por lá: em termos de benefícios ao coração, o azeite de abacate é ainda melhor que o de oliva, porque aumenta o colesterol bom e dimunui o ruim. Tomara que alguém comece a importar para o Brasil.